Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
- Não te deixo ir sem o casaco.
- A sério Rodrigo, usa-o tu!
- Não! Tu precisas mais dele. - disse, com tom autoritário.
Pegou no seu impermeável vermelho e colocou-o à volta dos ombros dela de maneira atenciosa. Teresa olhou para ele e sorriu. Nenhum rapaz para além dele se preocupava o suficiente com ela para lhe oferecer o impermeável num dia de chuva como aquele.
- Damos uma corridinha? - perguntou ele.
Teresa nem teve tempo de responder quando Rodrigo começou a correr. Rapidamente o apanhou e correram lado a lado até à estação de metro mais próxima. Quando chegaram ele estava encharcado, com o cabelo à surfista todo molhado.
- Não precisavas de me ter emprestado isto, sabias?
- Claro que sabia. Eu é que quis. - disse, mostrando aquele sorriso que ela tanto gostava.
Teresa ficou a olhar para ele. E ele ficou a olhar para ela. Parados, à entrada no metro, com os cabelos a escorrerem água e as calças de ganga coladas às pernas. Mas nenhum deles se importava realmente com isso.
Começaram a andar de novo e o caminho decorreu todo normalmente. Rodrigo insistiu em levar Teresa a casa e após algum tempo conseguiu convencê-la, como conseguia sempre.
Quando saíram do metro perto da casa dela já não chovia e estavam ambos calados, até que Rodrigo perguntou:
- Então, como é que vão os namorados?
Teresa sentiu-se corar. Ficava sempre assim quando lhe faziam perguntas dessas.
- Não vão... - disse baixinho.
- A sério? Por exemplo, as coisas com o Gonçalo? Estão bem? - Gonçalo era o irmão mais novo dele e tinha a mesma idade que Teresa. Rodrigo era um ano e meio mais velho.
- Rodrigo! Sabes bem que somos só amigos. Porque é que perguntas isso? - perguntou ela, espantada.
- Não sei... Talvez porque se dão bem, são da mesma idade e são os dois perfeitos, exceptuando ele!
Teresa voltou a sorrir. Não sabia se Rodrigo estava apenas a tentar gozar com o seu irmão ou se tinha acabado de insinuar que ela era perfeita, mas fosse qual fosse o motivo ela tinha ficado feliz.
- Nós damo-nos bem, mas é só isso!
- Oh, se ele te pedisse em namoro, não aceitavas? - perguntou ele, olhando de relance para aqueles olhos esverdeados que tanto o cativavam.
- Oh Rodrigo... acho que não. - disse ela, receosa da reação dele.
- Não? Coitado!
- Não é por ser ele, simplesmente eu diria que não a qualquer rapaz.
- Então e se fosse eu?
- Não! - disse ela, rindo-se baixinho.
- Não? - perguntou, espantadíssimo. - Teresa, queres andar comigo?
Rodrigo tinha parado numas escadas ligeiramente mais atrás, à espera da resposta. Teresa virou-se ligeiramente para trás e pensou bem na resposta. Se ele estivesse a falar a sério, ela responderia que sim. Mas ele era um rapaz brincalhão e costumava fazer muitas piadas desse género.
- Oh Rodrigo, e a tua namorada? - disse ela, sorrindo. Tinha ouvido uns boatos sobre uma nova relação de Rodrigo e achou que era uma boa maneira de confirmar a verdade sem parecer mal ou sem o chatear.
- Eu não tenho namorada!
- Pára lá, eu sei que tens!
- Juro que não! - disse Rodrigo. Não percebia porque é que Teresa tinha dito aquilo.
- Oh, de qualquer das maneiras... - O seu sorriso esmoreceu. As intenções de Rodrigo começavam a tornar-se mais confusas para ela e Teresa não entendia porque é que ele estava a ser tão insistente se estava apenas a brincar.
- Não? - Rodrigo sentia que tinha levado uma facada no coração, mas não o demonstrou.
- Eu sei que estás a gozar!
- Não estou.
- Eu sei que estás. - disse, aproximando-se dele.
- Tenho muita pena que penses isso.
Enquanto isto, tinham chegado à porta de casa da Teresa. Nenhum dos dois sabia bem o que dizer naquele momento, mas não durou muito. Rodrigo avançou, deu-lhe um beijo demorado na cara e disse:
- Bem, parece que chegámos. - afirmou ele, virando as costas.
- Rodrigo...
- Até amanhã.
- Rodrigo...
Com todo o barulho daquela zona da cidade, ele já não a ouvia. Teresa correu atrás dele.
- Esqueceste-te do teu beijinho. - disse ela, dando-lhe também um beijo na cara.
Olharam fixamente um para o outro durante instantes, até Rodrigo sorrir ligeiramente, repetir o "Até amanhã" e seguir em frente.
O que acham que iria acontecer?