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-Gonçalo, preciso de parar. - disse Teresa, entreabrindo os lábios.
-Porquê? Estou-te a magoar? - perguntou ele, subitamente preocupado, enquanto deixava mais espaço entre Teresa e a parede de tijolos que se encontrava atrás dela.
-Não. Mas hoje não consigo fazer isto, desculpa. - Teresa afastou-se ligeiramente, baixou-se para pegar na sua mala castanha, deu um beijo na cara de Gonçalo e voltou para dentro da escola. Ele ficou surpreendido. Normalmente, os dois ficavam juntos durante horas até serem obrigados a separar-se pelos horários de ambos no dia seguinte. Mas naquele dia, ela ficara apenas cinco minutos. Cinco minutos esses em que parecia nem estar presente, como se a sua mente andasse noutro local. Os seus beijos tinham sido fracos e com pouco carinho. Sim, carinho. Porque Gonçalo sabia que Teresa não o amava como ele a amava a ela. Para Teresa, Gonçalo seria sempre um amigo. Um amigo muito querido, sim, mas um amigo. Ele sabia e sempre soubera que o lugar especial no seu coração estava ocupado por outra pessoa.
Teresa não conseguia concentrar-se em nada. As aulas tinham corrido mal e os próprios professores tinham ficado impressionados com a sua má prestação. Ela não conseguia parar de pensar no que tinha acontecido no dia anterior. Depois de refletir sobre o sucedido, tinha-se apercebido que aquele pedido na verdade parecia sincero e que ela podia ter magoado os sentimentos de Rodrigo. Era necessário ela ir falar com Rodrigo e esclarecer as coisas, esclarecer que queria voltar atrás e aceitar namorar com ele! Mas ao mesmo tempo, ela receava magoar Gonçalo. Não era difícil perceber que ele gostava dela já desde há algum tempo e tinha-se tudo intensificado com aqueles beijos que eles ocasionalmente trocavam. Na altura em que tinham começado aqueles momentos a amizade entre os dois era bastante casual e na altura Teresa nunca imaginou que isso poderia trazer sentimentos a Gonçalo. Tudo se tinha complicado demasiado.
- Cuidado! -gritou Rodrigo, agarrando-a.
Teresa ia tão embrenhada nos seus pensamentos que nem se tinha apercebido que estava prestes a chocar com uma coluna. Sorriu discretamente para ele e agradeceu.
- Está tudo bem? -perguntou ele, pegando-lhe no queixo para que ela fosse obrigada a mirá-lo nos olhos.
- Sim, tudo. Só ando distraída.
- De certeza?
- Mais ou menos. -Teresa hesitou. Não queria que a conversa se tornasse estranha. Mas a sua curiosidade estava a dar cabo dela e ela necessitava de lhe perguntar para ficar descansada. -Ontem estavas mesmo a falar a sério?
Rodrigo sorriu. Não um sorriso pequeno e fechado, mas um sorriso de orelha a orelha.
- Sempre estiveste a pensar nisso, não foi?
- Eu apercebi-me que posso ter sido um pouco...
Rodrigo agarrou-lhe a cintura e interrompeu-a, pondo um dedo sobre os seus lábios.
- Apercebeste-te que tinhas dado a resposta errada, portanto!
- Foi mais ou menos isso -afirmou Teresa, rindo-se.
Rodrigo olhou nos olhos dela e aproximou-se mais, agarrando-a com mais força. Teresa colocou os seus braços junto do pescoço de Rodrigo e assim ficaram alguns segundos, até os seus lábios se unirem como ambos já tinham imaginado tantas vezes.
E desde o fundo do corredor, Gonçalo observava tudo, com uma lágrima no canto do olho.
O que acharam?