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Com tantos grandes filmes de animação no passado, entre os quais não posso deixar de destacar Rei Leão (que já data de 1994) e Hércules (os meus preferidos de infância), seria de esperar que os padrões estivessem a diminuir, tal como tem acontecido em vários outros tipos de arte (como é o caso da pintura e da música). No entanto, se há coisa cuja qualidade se recusa a diminuir, são os filmes de animação.
Inside Out, considerada a melhor animação do ano passado, tem uma classificação altíssima de 8.3 no IMDB. Não percebia como é que um mero filme de animação apresentava uma pontuação destas, superior às de The Butterfly Effect e Predestination, dois dos meus filmes preferidos. No entanto, depois de o ver, compreendo que não se trata de um mero filme de animação. É muito mais do que isso, versando temáticas tão importantes como as emoções, a natureza humana, o crescimento e a formação do carácter. A tristeza demonstra ser um sentimento tão valioso para o nosso amadurecimento quanto a alegria, visto que um crescimento saudável passa pela experiência de todas as emoções. É incrível como um filme infantil teve a ousadia de levantar questões tão sérias sem perder a simplicidade necessária para agradar ao seu grande público.
O mesmo aconteceu com Zootopia, com um mísero ponto a menos, apresentando um 8.2. Decidi vê-los a ambos durante a mesma tarde e eis que fiquei maravilhada. Já tinha boas expectativas para o Inside Out, não apenas por ter sido o vencedor de um Óscar mas pelas várias opiniões que tinha ouvido, inclusivé de pessoas que não são propriamente fãs de filmes de animação. No entanto, Zootopia rebentou a escala das expectativas, se é que existia alguma, e é disso que vos venho falar hoje.
Zootopia começa com a história de uma pequena coelha, Judy, que quer ser a primeira coelha a tornar-se uma polícia na grande cidade de Zootopia. Muito diferente dos seus pais, que dizem que "ter sonhos é normal", mas não os devemos tentar conquistar, esta representa a típica heroína: positiva, muito determinada, que gosta de provar a todo o mundo aquilo que vale e que tem como maior objetivo "melhorar a vida da cidade". Acaba por ser um pouco ingénua, razão pela qual estamos a torcer por ela o filme todo.
Esta encontra várias personagens na sua jornada, todas muito diferentes e bem desenvolvidas, especialmente aquele que se vem a tornar o seu parceiro não oficial na resolução do crime, Nick. Este trata-se de uma raposa mázinha que vai demostrando as suas verdadeiras cores ao longo do filme, sempre com uma personalidade bastante cómica. Estes dois têm perspectivas de vida muito diferentes, sendo que Nick se subordinou aos preconceitos que tinham em relação a ele enquanto Judy faz tudo o que pode para acabar com eles. Todas estas diferenças contribuem para deixar o enredo bastante mais interessante.
Apesar do desenvolvimento da história se tornar um pouco previsível, como é costume das histórias Disney - não que isso seja mau - o facto de todo o enredo girar à volta de um crime e da sua resolução torna o filme dinâmico. Esta ideia estilo policial foi, na minha opinião, algo original e bem conseguido.
Todos os cenários estão incrivelmente bem feitos, cheios de cor. A cidade foi desenhada de uma maneira espectacular, apresentando diferentes bairros e engenhocas adaptados às diferentes espécies de animais que lá vivem. Tudo foi pensado ao pormenor, desde os aspersores da floresta até ao funcionamento das lojas. As próprias referências às tecnologias de hoje em dia, sendo que o toque do telemóvel e o sistema de vídeo são semelhantes ao de um Iphone, torna o filme bastante actual.
A animação, como não podia deixar de ser, é excelente. A dobragem está perfeita e acho que as vozes transbordam emoção e não se podiam enquadrar melhor nestas personagens, tendo o privilégio de ter como uma música principal uma música da Shakira que, apesar de não ser um dos seus grandes hits, se enquadra bem no filme.
Zootopia é o exemplo perfeito daquilo a que se chama "reflexão através do entretenimento". É um filme que, através do humor e da animação, consegue passar uma mensagem poderosa. Não se trata de algo apenas para crianças. Apesar de simples, faz inúmeros paralelismos com o mundo real e apresenta até algumas críticas inerentes às pessoas do governo e à manipulação a que estas nos sujeitam. Os temas do preconceito e da diversidade são transversais a todo o filme, onde se incentiva a irmos atrás dos nossos sonhos sem ligarmos aos estereótipos. Apesar do tema já não ser propriamente novo, a execução é o que realmente torna este filme diferente de todos os outros que já vimos. E apesar de ser previsível e até cliché (chamem-lhe o que quiserem), não há como negar que está muitíssimo bem desenvolvido.
Eu, que não sou nada de repetir filmes, teria todo o gosto em fazê-lo. E porquê? Porque este filme, especialmente quando acaba, nos deixa com um enorme sorriso na cara. Qual é o objetivo de um filme de animação se não esse?